Newsletter #22- Atividade Física de Longo Prazo na Mortalidade e Envelhecimento Biológico: Um Estudo com Gêmeos
Uma questão central na pesquisa em saúde pública e gerontologia reside na elucidação do papel da atividade física de longo prazo como determinante da mortalidade e do ritmo do envelhecimento biológico. Em uma investigação conduzida por pesquisadores da Universidade de Jyväskylä, Finlândia, o objetivo primordial foi examinar as associações entre diferentes níveis de atividade física praticada ao longo da vida adulta e seus efeitos subsequentes na longevidade e em marcadores de envelhecimento biológico. Os achados revelaram um efeito protetor significativo da atividade física moderada sobre a mortalidade, com uma redução de 7% no risco ao longo de um período de 30 anos. Surpreendentemente, níveis mais elevados de atividade física não demonstraram conferir benefícios adicionais em termos de redução da mortalidade. O estudo foi publicado no European Journal of Epidemiology, no início de 2025.
O estudo prospectivo de coorte, com duração de 30 anos, envolveu a análise de dados de 22.750 gêmeos nascidos antes de 1958. Liderado pela Dra. Anna Kankaanpää, pesquisadora de pós-doutorado no Centro de Pesquisa em Gerontologia (GEREC) da Faculdade de Esporte e Ciências da Saúde da Universidade de Jyväskylä, a investigação coletou informações sobre a atividade física de lazer dos participantes nos anos de 1975, 1981 e 1990. O acompanhamento da mortalidade estendeu-se até o ano de 2020. Adicionalmente, os pesquisadores exploraram a influência da atividade física no envelhecimento biológico, utilizando medidas de "relógios" epigenéticos, bem como seu potencial impacto no risco genético preexistente de doenças.
A amostra foi estratificada em quatro grupos distintos com base nos níveis de atividade física autorrelatados, utilizando um questionário validado que quantificou o gasto energético em equivalentes metabólicos por hora por dia (MET h/d): sedentários, moderadamente ativos, ativos e altamente ativos. A avaliação da atividade física foi realizada ao longo de um período de 15 anos, e as taxas de mortalidade foram analisadas após 30 anos de acompanhamento. Em um subconjunto da amostra de gêmeos, foram coletadas amostras biológicas (sangue) para a avaliação do envelhecimento biológico por meio de "relógios" epigenéticos fundamentados em alterações nos padrões de metilação do DNA. Dados genéticos estavam disponíveis para 4.897 indivíduos.
As diretrizes de exercício estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde preconizam a prática de 150 a 300 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada ou 75 a 150 minutos de atividade física de intensidade vigorosa. Os pesquisadores utilizaram essas recomendações como referência para investigar seus efeitos na mortalidade e no risco de doenças genéticas. Contudo, a adesão a essas diretrizes não demonstrou uma redução significativa na mortalidade nem alterou o risco de manifestação de doenças com predisposição genética. Em pares de gêmeos discordantes quanto à adesão às diretrizes de atividade física por um período de 15 anos, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas nas taxas de mortalidade.
Os pesquisadores postularam que potenciais vieses inerentes a estudos observacionais poderiam ter contribuído para a associação positiva previamente relatada entre atividade física e menor risco de mortalidade. Apesar da consideração de múltiplos fatores de confusão potenciais e do extenso período de acompanhamento, a presente investigação não corroborou essa associação. Conforme declarado pela Dra. Laura Joensuu, pesquisadora de pós-doutorado no GEREC e coautora do estudo, "Em nossos estudos, buscamos mitigar diversas fontes de vieses e, em conjunto com o longo período de acompanhamento, não conseguimos confirmar que a adesão às diretrizes de atividade física atenua o risco genético de doenças cardiovasculares ou reduz causalmente a mortalidade".
Em uma subamostra de gêmeos que forneceram material biológico, os pesquisadores identificaram uma relação não linear, em formato de U, entre a atividade física de lazer e o envelhecimento biológico. Tanto o grupo sedentário quanto o grupo altamente ativo apresentaram idades biológicas superiores em comparação com o grupo moderadamente ativo. Mesmo após o ajuste para diversas variáveis de estilo de vida, o grupo altamente ativo demonstrou, em média, uma idade biológica 1,2 anos superior ao grupo moderadamente ativo e 1,6 anos superior ao grupo ativo. A Dra. Elina Sillanpää, professora do GEREC e autora correspondente do estudo, elucidou que "O envelhecimento biológico foi acelerado naqueles que se exercitaram menos e mais".
Considerando a ausência de uma ligação significativa estabelecida entre a atividade física de longo prazo e um envelhecimento biológico mais lento, os pesquisadores inferiram que a idade biológica pode não ser um mediador direto da relação entre a atividade física e a redução da mortalidade observada no estudo. Os autores reconheceram as limitações inerentes aos dados observacionais, que são suscetíveis à influência de múltiplos fatores de estilo de vida concomitantes, como o tabagismo e o consumo de álcool. A Dra. Sillanpää ponderou que "Um estado pré-mórbido subjacente pode restringir a atividade física e, em última instância, culminar em óbito, e não a inatividade per se". Esse cenário pode introduzir distorções na avaliação da associação de curto prazo entre atividade física e mortalidade.
Em síntese, os resultados desta investigação sugerem que a relação entre a atividade física e a mortalidade geral é modulada por uma complexa interação de múltiplos fatores. A aparente associação entre a atividade física de lazer e uma menor mortalidade pode, portanto, refletir um estado de saúde robusto e um perfil de estilo de vida globalmente saudável dos participantes.
Por: Prof. Dr. Giulliano Gardenghi
Divulgador Científico da Central da Reabilitação
Referência
Kankaanpää, A., Tolvanen, A., Joensuu, L. et al. The associations of long-term physical activity in adulthood with later biological ageing and all-cause mortality – a prospective twin study. Eur J Epidemiol 40, 107–122 (2025). https://doi.org/10.1007/s10654-024-01200-x