Newsletter #7: TMI na doenças cardiovasculares
Em 2009, ouvi pela primeira vez uma palestra sobre o TMI em pacientes portadores de insuficiência cardíaca (IC). Lembro como se fosse hoje: o evento era o DERC, na querida Paraíba, e o palestrante era o saudoso Dr. Jorge P. Ribeiro. O artigo apresentado era do Prof. Pedro Dallago, publicado em 2006, na JACC. Até hoje, é o artigo que eu mais gosto sobre o tema e um dos mais relevantes (leia aqui).
Naquela época, com apenas um ano de formado, eu conhecia o TMI apenas como ferramenta para facilitar o desmame ventilatório, em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca ou com doenças pulmonares. Participar desse evento foi transformador para mim em vários aspectos. Sempre que puder, compareça a eventos — eles podem mudar sua visão sobre a prática clínica!
Mecanismos da Disfunção Diafragmática nas Doenças Cardiovasculares
A relação entre a função diafragmática e o sistema cardiovascular vai muito além da respiração. O diafragma é um músculo-chave no suporte hemodinâmico e na modulação de reflexos autonômicos. Suas alterações em doenças cardiovasculares podem agravar significativamente a condição clínica dos pacientes.
1. Atrofia e Alterações Estruturais
Na insuficiência cardíaca (IC), as alterações musculares são mecanismos centrais associados à limitação ao exercício. Diferentemente dos músculos periféricos, o diafragma apresenta um aumento da proporção de fibras tipo I (contração lenta) em relação às tipo II (contração rápida), além de alterações mitocondriais que comprometem a eficiência contrátil de ambas. Esses fatores levam à redução significativa da força inspiratória máxima (PImáx), correlacionando-se com piora da capacidade funcional e aumento da mortalidade.
O Que é o Metaborreflexo?
O metaborreflexo muscular é um reflexo autonômico ativado durante o exercício físico. Ele ajusta a circulação e a atividade cardiovascular em resposta aos metabólitos acumulados nos músculos, como ácido lático, íons de hidrogênio e potássio. Esse mecanismo é mediado por fibras aferentes do grupo IV, que enviam sinais ao sistema nervoso central para aumentar a pressão arterial e a atividade simpática.
Em condições normais, o metaborreflexo mantém o fluxo sanguíneo e a oxigenação muscular. Contudo, em indivíduos com IC, ele pode estar exacerbado, gerando vasoconstrição periférica excessiva, restrição do fluxo sanguíneo nos membros inferiores e fadiga precoce devido à redução do aporte de oxigênio.
TMI e Atenuação do Metaborreflexo
O TMI é uma ferramenta poderosa para modular o metaborreflexo, trazendo benefícios importantes:
• Fortalecimento dos músculos respiratórios: aumenta a força e a resistência dos músculos inspiratórios, melhorando sua eficiência durante o esforço;
• Redução da produção de metabólitos: diminui o acúmulo de metabólitos nos músculos respiratórios, atenuando a ativação das fibras aferentes do grupo IV;
• Melhora na oxigenação muscular: promove maior oxigenação, reduzindo o impacto do metaborreflexo exacerbado;
• Aumento do fluxo sanguíneo periférico: alivia a vasoconstrição periférica, favorecendo a circulação e a remoção de metabólitos;
• Diminuição da sobrecarga cardiovascular: reduzindo a sobrecarga no sistema cardiovascular, melhora a tolerância ao exercício e diminui a dispneia;
• Essencial na reabilitação: torna-se indispensável em programas de reabilitação cardiopulmonar, com benefícios diretos na função respiratória e cardiovascular.
Principais Protocolos de TMI para Pacientes com Insuficiência Cardíaca
Baseado em evidências científicas, os protocolos mais eficazes incluem:
1. Carga Inicial: 30% a 40% da PImáx, ajustada de forma progressiva;
2. Progressão da Carga: semanal, baseada em nova mensuração da PImáx;
3. Duração das Sessões: 20 a 30 minutos ou 60 repetições por dia;
4. Frequência Semanal: 5 a 7 dias por semana;
5. Duração do Programa: 8 a 12 semanas, com benefícios adicionais em protocolos de até 16 semanas;
6. Tipo de Dispositivo: dispositivos de resistência ajustável, como o Threshold;
7. Supervisão: acompanhamento inicial e ajustes periódicos garantem adesão e segurança.
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Abraços e um FELIZ NATAL 🎄
Chico
Referências:
1. Dallago, P., et al. (2006). "Inspiratory muscle training improves inspiratory muscle strength, endurance, and functional exercise capacity in patients with heart failure: A meta-analysis." Journal of the American College of Cardiology. DOI: 10.1016/j.jacc.2005.09.052.
2. Revisão Sistemática sobre o Efeito do TMI em Pacientes com Insuficiência Cardíaca. (2020).
3. Adaptações do Metaborreflexo Muscular ao Exercício.
4. Contribuição da musculatura inspiratória na limitação do exercício em pacientes com doenças cardiovasculares.
5. Função Diafragmática nas Doenças Cardiovasculares.