Variabilidade da frequência cardíaca: a janela do seu coração.
Gosto de pensar na variabilidade da frequência cardíaca (VFC) como uma espécie de janela, daquelas que nos permitem dar uma espiadinha no que se passa lá dentro de nós.
O nosso corpo, dotado desse incrível sistema nervoso autônomo, é tipo um maestro que regula todos os bastidores internos. Ele faz tudo, desde liberar hormônios para manter a nossa temperatura até manter a pressão arterial estável. Esse sistema é o nosso verdadeiro salva-vidas, nos ajudando a sobreviver a períodos de jejum prolongado, estresses físicos e mentais, regulador do sono e vigília e esse sistema é o que permitiu o Homo Sapiens a sobreviver a tantos perrengues. A nossa existência depende desse sistema.
Um detalhe importante desse sistema nervoso é que não podemos controlá-lo de forma voluntária e a sua ação é dependente do órgão que ele atua, por exemplo, no coração o sistema nervoso parassimpático, através do nervo vago, reduz os batimentos cardíacos, enquanto no sistema digestivo esse mesmo sistema o deixa mais ativado. Ou seja, o mesmo sistema promove reação diferente a depender do órgão. Apesar de parecer contraditório, a explicação é simples o sistema nervoso autônomico (SNA) irá atuar em dois modus operandi básicos. Um modus para momentos de estresse e outro para repouso ou digestão. Então, quando o sistema está configurado para o ataque ou fuga todos os órgãos que vão possibilitar essa tarefa são ativados, como o coração, pulmão, músculos e fornecedores de energia a curto prazo. O intestino, estômago e vasos renais são contraídos e receberão menos sangue naquele momento. Após o estresse tudo voltará ao "normal".
Mas qual a relação da VFC com esse sistema? A VFC é tipo um exame, não invasivo, que usa cálculos estatísticos dos intervalos entre os batimentos cardíacos (intervalo RR) para entender qual dos dois modus do SNA está dominando o nosso corpo. Ao investigar como os batimentos cardíacos variam, podemos descobrir o que está acontecendo nos bastidores desse sistema complexo. E ao longo desses mais de 50 anos de estudos sobre VFC, os equipamentos e softwares para analisar esses intervalos evoluíram muito.
Atualmente sabe-se que os mecanismos que controlam nossos batimentos são altamente complexos e não lineares, sendo chamados por alguns de caóticos. Sendo assim, na ausência de arritmias, quanto mais caótico for a batida do seu coração, melhor ele está. Corações de crianças saudáveis possuem uma variação muito maior do que de idosos saudáveis. As doenças cardiovasculares, obesidade, doenças oncológicas e psíquicas podem reduzir a taxa de variação dos batimentos, tornando-os mais previsíveis e com menor capacidade de reação a eventos estressores.
Então, no mundo de hoje, considero que a incorporação da VFC na prática clínica não é apenas uma tendência, mas uma necessidade, proporcionando uma visão individualizada do meio interno de cada pessoa. Assim, possibilita aos profissionais de saúde identificar o resultado final das intervenções que estão sendo realizadas com seus clientes. O futuro é agora.
Por: Francisco Oliveira
Fisioterapeuta