Variabilidade da frequência cardíaca: a janela do seu coração.

08/01/2024

Gosto de pensar na variabilidade da frequência cardíaca (VFC) como uma espécie de janela, daquelas que nos permitem dar uma espiadinha no que se passa lá dentro de nós.


O nosso corpo, dotado desse incrível sistema nervoso autônomo, é tipo um maestro que regula todos os bastidores internos. Ele faz tudo, desde liberar hormônios para manter a nossa temperatura até manter a pressão arterial estável. Esse sistema é o nosso verdadeiro salva-vidas, nos ajudando a sobreviver a períodos de jejum prolongado, estresses físicos e mentais, regulador do sono e vigília e esse sistema é o que permitiu o Homo Sapiens a sobreviver a tantos perrengues. A nossa existência depende desse sistema.


Um detalhe importante desse sistema nervoso é que não podemos controlá-lo de forma voluntária e a sua ação é dependente do órgão que ele atua, por exemplo, no coração o sistema nervoso parassimpático, através do nervo vago, reduz os batimentos cardíacos, enquanto no sistema digestivo esse mesmo sistema o deixa mais ativado. Ou seja, o mesmo sistema promove reação diferente a depender do órgão. Apesar de parecer contraditório, a explicação é simples o sistema nervoso autônomico (SNA) irá atuar em dois modus operandi básicos. Um modus para momentos de estresse e outro para repouso ou digestão. Então, quando o sistema está configurado para o ataque ou fuga todos os órgãos que vão possibilitar essa tarefa são ativados, como o coração, pulmão, músculos e fornecedores de energia a curto prazo. O intestino, estômago e vasos renais são contraídos e receberão menos sangue naquele momento. Após o estresse tudo voltará ao "normal".

Mas qual a relação da VFC com esse sistema? A VFC é tipo um exame, não invasivo, que usa cálculos estatísticos dos intervalos entre os batimentos cardíacos (intervalo RR) para entender qual dos dois modus do SNA está dominando o nosso corpo. Ao investigar como os batimentos cardíacos variam, podemos descobrir o que está acontecendo nos bastidores desse sistema complexo. E ao longo desses mais de 50 anos de estudos sobre VFC, os equipamentos e softwares para analisar esses intervalos evoluíram muito.


Atualmente sabe-se que os mecanismos que controlam nossos batimentos são altamente complexos e não lineares, sendo chamados por alguns de caóticos. Sendo assim, na ausência de arritmias, quanto mais caótico for a batida do seu coração, melhor ele está. Corações de crianças saudáveis possuem uma variação muito maior do que de idosos saudáveis. As doenças cardiovasculares, obesidade, doenças oncológicas e psíquicas podem reduzir a taxa de variação dos batimentos, tornando-os mais previsíveis e com menor capacidade de reação a eventos estressores.


Então, no mundo de hoje, considero que a incorporação da VFC na prática clínica não é apenas uma tendência, mas uma necessidade, proporcionando uma visão individualizada do meio interno de cada pessoa. Assim, possibilita aos profissionais de saúde identificar o resultado final das intervenções que estão sendo realizadas com seus clientes. O futuro é agora.

Por: Francisco Oliveira

Fisioterapeuta